segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Depois de alguns longos meses sem postar, confesso que ando sentindo falta da escrita, minha velha amiga e companheira, assim devo retomar a atividade dos contos que praticava com muita freqüencia apesar do pouco tempo. Era um exercício de escrita fabuloso e de memória mais ainda, não sei se meus anseios me assemelhavam a contos baratos ou folhetins da teledramaturgia brasileira, mais sob a ausência de um dos meus correspondentes e dos víveres responsáveis pela subsistência de meus sonhos estarem desfavoráveis entrego me mais um vez a esta prática.

Ainda sem ou com quase nenhuma idéia daquilo que vos será apresentado seguem os meus loucos contos...

A chuva derretia os pequenos montes de terra, os meninos deixavam-se molhar enquanto as meninas seguiam com pastas sob a cabeça cobrindo os cabelos espichados, os sapatos tocavam o chão com passos apressados e delicados, era necessário salvar-se. A sabedoria dos animais que contemplavam o milagre das águas retornarem dos céus não foi herdada por aquelas moças em que as meias brancas já estavam terrosas pelos pingos de água que respingavam nas largas passadas. Os meninos debruçavam-se mesmo molhados para tentar contemplar os vestígios de pernas, braços, corpos que se exibiam na transparência das roupas e da maneira pouco graciosa que as figuras juvenis fugiam da chuva, todos inscritos sob a mesma freqüência, sob o mesmo frescor vital, que talvez a minha figura não havia agraciado.

Eu tinha dezessete anos, e ainda me lembrava dos cabelos curtos, modismo inventado em meus acessos de raiva, segurados por presilhas curtas e vermelhas que continham todo alvoroço que o vento poderiam me causar. Os ombros de minha desajeitada figura curvavam-se sob uma pasta de couro marrom, enquanto as passadas contidas desviavam-se das poças d'água. No intuito de resguardar-me detive o desejo de banhar-me sob a chuva, ainda sim, às vezes, distraia-me, conduzida pelo frescor e do aroma que emanava naquela emulsão, onde as pequenas gotículas desfaziam a a seca camada de terra, reagiam numa reação não explicitada nos livros de química mas comum aos homens da poética. Conduzida naquela indecifrável formulação erguia minha face aos céus, e as gotas resvalavam sob minha pele, estavámos todos condenados a mesma sentença, ressoava do místico encontro da água com meus poros. Sob todos os estratagemas do homem estávamos todos conjugados por aquele fenômeno, dádiva, mistério natural que embalou os exaustos com a canção que os respingos compuseram de encontro aos telhados.

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